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EXPOSIÇÃO - com recursos de audiodescrição

“Mamulengo, gente em forma de boneco”

O boneco mamulengo é um brinquedo da cultura popular pernambucana que encanta pela semelhança física com o ser humano. Desbocado, boca suja, mal educado, de mau gosto... este são alguns dos adjetivos que dão ao boneco, mas poucos sabem que este tem forte tradição cultural e que em 2015 foi reconhecido como patrimônio imaterial do Brasil, tombado pelo Iphan - Instituto do Patrimônio Nacional Histórico e Artístico.

Seu aparecimento é conhecido também em outros países e culturas; no Brasil, mais precisamente a região nordeste foi estabelecido o berço deste boneco. O termo Mamulengo vem de “Mão molenga”, ideal para dar movimentos vivos ao fantoche pela forma como o boneco é manipulado, mas esse termo muda conforme a região, por exemplo, no Rio Grande do Norte é conhecido como João Redondo ou Calunga, no Piauí e Ceará é chamado de Cassimiro Coco, na Paraíba é chamado de Babau e em Pernambuco, São Paulo e Distrito Federal é conhecido como Mamulengo.

Talhado em madeira Mulungu, produzido com a técnica do papel marchê, espuma de nylon, isopor ou resina, o mamulengo difundiu-se em praça pública, como uma “brincadeira”, na qual os manipuladores, também chamados de “brincantes”, utilizavam o boneco para reivindicar pautas ligadas a saúde, educação, moradia e trabalho. Por tecer uma linguagem “escrachada” e contraria as normas “politicamente corretas”, este boneco explora comicamente assuntos considerados tabus pela sociedade e sua forma de manipulação desconsidera princípios clássicos, amparados na moral e na ética. Por este motivo, o mamulengo é segregado em muitos espaços, e em alguns casos não é reconhecido como manifestação artística popular. Como salienta Fernando Augusto Gonçalves Santos autor do livro “Mamulengo: um povo em forma de bonecos”. O espetáculo do Mamulengo, que seja urbano ou rural, é destinado a um público específico. O Mamulengo não satisfaz as necessidades teatrais ou mesmo emocionais do público intelectual e burguês que habitualmente frequenta os nossos teatros. Quando muito, esse público assiste a uma função por curiosidade, por atitude exótica ou por seu aspecto folclórico. Fica bastante claro que seu público é o povo, as camadas mais inferiores da sociedade, a gentalha, a ramaféia, o Zé-povinho. A esse povo o mamulengueiro sabe falar, dizendo dos mais diferentes aspectos de suas vidas, transfigurando suas alegrias e suas dores”.

Tradicionalmente o mamulengo era passado de pai para filho. Os mestres mais antigos instruíam e iniciavam seus filhos homens desde criança a manipular e brincar com o boneco. Historicamente esse habitou formou mestres de excelência, como os saudosos Mestre Sauba, da cidade de Carpina, conhecido por bonecos que cria movimentos mecânicos; Mestre Zé Lopes, da cidade de Glória de Goitá, que iniciou no mamulengo aos 10 anos de idade, em 1996, criou um museu em Glória do Goitá. Em 2016, se tornou Patrimônio Vivo de Pernambuco, título concedido pelo governo do estado de Pernambuco e Mestre Zé Di Vina, também natural de Glória do Goitá, foi o último remanescente dos mestres mamulengueiros de primeira geração, inspiração de todos os mestres atuais. Iniciado no mamulengo na década de 50, inspirou e disseminou essa expressão artística ao longo da sua vida.

 

TRADIÇÃO E SALVAGUARDA

Atualmente o teatro de mamulengos segue mais vivo do que nunca e mantém ativo o Museu do Mamulengo Espaço Tiridá em Olinda e o Museu do Mamulengo de Glória de Goitá – ambos em Pernambuco; Juntos esses espaços atuam com um trabalho de salvaguarda com acervo de peças dos mestres mais antigos, além da formação de novos mestres e brincantes.

O Museu de Glória do Goitá é gerido pela Mestra Titinha – Edjane Maria Ferreira de Lima, também presidente da Associação dos Mamulengueiros de Glória do Goitá e trabalha diretamente na produção e manipulação do mamulengo, com oficinas para estudantes da rede pública de ensino, exposições e apresentações. Os projetos possibilitam acompanhar a formação de novos mestres e brincantes e também incluir novas abordagens pedagógicas ao mamulengo, como por exemplo, a atualização de termos e roteiros que contemplem a diversidade de gênero e raças. A exemplo disso temos o fortalecimento da participação feminina na linguagem com mestras e brincantes a frente das produções artísticas, além de mais igualdade nos assuntos abordados nas brincadeiras. 

A exposição “Mamulengo, gente em forma de boneco” reúne registros deste museus e do trabalho de salvaguarda dos acervos. Parte dos registros foram feitos por Ricardo Salem e parte foi cedida pelo Museu do Mamulengo de Glória do Goitá. Essa pequena exposição integra o projeto “As três Marias – Estrelas do Sertão”, com incentivo do Programa de Ação Cultural – Proac – da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo.

Edjane Maria Ferreira de Lima – Curadora/ Ricardo Salem – Produtor Executivo

Luciane Molina - Consultoria em Audiodescrição/ Ligia Ribeiro - Narração de textos em audiodescrição

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painel 8_Museu Mamulengo de Olinda _Mestre Tirida_arquivo.JPG
painel 10_Mestra Titinha.jpg
painel 6_Museu Glória do Goitá_Mestre Zé Di Vina_foto_Hans Von Manteuffel.jpg
painel 4_Museu Glória de Goitá_Mestre Bel_foto_Pablo Dantas.jpg
painel 4_Museu Glória do Goitá_Mestre Bila_foto_Vinicius Dantas.jpeg
painel 2_Museu Gloria de Goitá_Morte e Diabo_bonecos de mestre Bila.JPG
painel 2_Museu Gloria de Goitá_Quitéria - de Mestra Titinha, Espetor Peinha _de mestre Bel
painel 2_Museu Gloria de Goitá_Acervo dos Bonecos do Mestre Zé de Vina - Primeira fila. Zé
painel 3_Museu do Folclore SJCampos_Casa de Farinha - Mestre Saúba_foto_RicardoSalem (2).J
painel 3_Museu do Folclore SJCampos_Casa de Farinha - Mestre Saúba_foto_RicardoSalem (1).J
painel 9_Museu de Mamulengo de Olinda_Saga de Lampião_bonecos_Mestre Saúba_foto_RicardoSal
painel 9_Museu do Mamulengo de Olinda_O casamento de Raul irmão de Simão_bonecos Mestre So
painel 7_Museu Glória do Goitá_Aprendiz_foto_Pablo Dantas.jpg
painel 5_Museu Glória do Goitá_Grupo Flor do Mulungu_foto_Pablo Dantas.jpg
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